A Exaustão do Professor Está Valendo a Pena?

Um professor exigido ao seu máximo consegue produzir de forma eficiente? E tudo que ele faz ainda é o suficiente? E as consequências disso? E o que isso tem a ver com “Educação”?

Paulo Bocca Nunes

Cada dia que passa observamos nas redes sociais muitas queixas de professores sobrecarregados e exaustos. Turmas com número excessivo de alunos e condições precárias para o exercício da função são motivos que já se tornaram tradição. No entanto, a última década trouxe outros elementos, que exigem cada vez mais do professor não apenas planejamentos cada vez mais elaborados como também resultados inalcançáveis.

Um dos elementos que se mostram extremamente complicados, diz respeito aos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e não possuem um laudo. Mesmo as escolas que possuem um laboratório de aprendizagem não conseguem dar conta desse problema. Cabe ao professor fazer uma atividade adaptada, mesmo sem ter o preparo em Pedagogia da Aprendizagem – ou mesmo em Neuro Pedagogia – para esses alunos. Na verdade, a atividade adaptada se resume em uma atividade “mais fácil” para os alunos. Isso também não significa que haverá aprendizagem.

Eu mesmo, professor de Português, tive uma turma com 32 alunos, sendo 7 com laudos e mais boa parte da turma sem qualquer laudo. A solução foi reunir os professores para cada um dar o seu diagnóstico, a partir da sua própria disciplina e, dessa forma, fazer um plano para esses alunos. De qualquer forma, houve a necessidade de reuniões e para cada aluno ser feito um plano de aula, além do plano para o restante da turma.

Apenas sob essa abordagem, podemos presumir claramente o aumento da carga de trabalho do professor. Pensar em cada aluno, como um indivíduo que traz consigo carências e problemas de todos os tipos, em algum momento fará com que o professor simplesmente “empaque”. Refiro-me àquela “pane mental” que trava todo o desenvolvimento de raciocínio, levando ao desânimo e ao cansaço extremo. Quem é professor, certamente conhece um ou mais colega que tem acompanhamento com psicólogo ou até mesmo psiquiátrico.

Outro problema diz respeito aos estudantes com excesso de faltas. As orientadoras educacionais das escolas ficam atentas às chamadas, verificando quem está sendo infrequente. Seu trabalho é chamar os pais e verificar o que está acontecendo. Porém, muitas vezes, esses pais não respondem aos chamados. Outras vezes, quando vão às escolas, reclamam que não têm tempo para atender aos chamados.

Existem estudantes com dificuldades de irem à escola em dias de chuva, por exemplo. Entretanto, até nos dias de sol a frequência não é das melhores. Eu mesmo constatei que, ao final do primeiro semestre, entre as minhas quatro turmas em torno de 45% estavam abaixo dos 75% de frequência exigidos. Alguns estavam com 27% de frequência, no primeiro semestre. A solução que foi dada: fazer atividades compensatórias para esses alunos e registrar tudo no Educar Web. Ou seja… mais trabalho! Igualmente, a aprendizagem não foi favorecida.

O segundo semestre é mera repetição do primeiro, com o agravante de que serão feitos conselhos de classe para falar do desempenho dos estudantes. Não se fala em reprovação, pois isso foi abolido por ser considerado uma “punição” ao estudante. Sabendo disso, o aluno é “estimulado” a não comparecer às aulas, nem mesmo fazer e entregar trabalhos e provas.

Todo o esforço do em fazer material para todos os alunos, infrequentes, com e sem laudos, mais criar as atividades compensatórias e fazer as anotações nas planilhas de acompanhamento do aluno, constituem as tarefas mais cansativas do professor. Todas essas exigências levam o profissional ao esgotamento e a ter pouca, ou quase nenhuma, disposição para dar as suas aulas. A pergunta que fica em sua cabeça é: “Para que vou fazer tudo isso?”.

Cabe a mim com professor também repetir a pergunta que dá título a este artigo: “A exaustão do professor está valendo a pena?”

Aqueles que ainda não sentiram os efeitos das exigências do exercícios da profissão talvez ainda estejam na fase dos “sonhos idealistas”. Mas somente até dar a primeira “pane mental”. Depois, é tudo “ladeira abaixo”.

Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.